Friday, December 22, 2006

Natale

Quando chega o fim dos dias de um ano, tudo pela contagem que um dia estabelecemos, nas grandes metrópoles tudo fica diferente.
As pessoas muito preocupadas com o Natal, a festa do Ano Novo, a roupa branca, os presentes da moda.
Tive um Natal muito triste em minha vida quando era criança. O seguinte foi bom, um dos únicos. Ganhei Polly, brinquedo de armar. Notícias davam conta da morte de Charles Chaplin. Todo mundo dizia que tratava-se de um gênio; eu não tinha dez anos e, graças ao bom tempo, consegui ratificar a voz popular. Chaplin morreu velhinho, viveu bem, fez muita coisa boa, muita gente sorrir, uns poucos ficaram vermelhos de raiva. Dia desses foi o Barbera. Eu não acredito em céu, mas em caso de meu erro, muito o merece: só pensar no Barney, Zé Colméia, Scoody e tantos outros para saber o quanto esse sujeito fez de criança feliz no mundo.
Natal, a princípio festa cristã, abraçada por todas as causas, mas parcialmente. Falam de solidariedade, de cumplicidade, de amor ao próximo, mas eu só vejo isso por uns cinco minutos. Passa o ano, os mendigos continuam dormindo entre os ratos, as crianças chorando pela miséria e a injustiça por todo canto. Há uns quinze anos atrás, fingiram acabar com o comunismo e estabeleceram uma nova ordem capitalista - vejam o que está pelas ruas do planeta.
Falta solidariedade. Amor ao próximo. Respeito. Isso independe de religião, menos ainda dos presentes comprados após estafantes filas nos centros comerciais. Não importa a roupa branca.
A vida é todo dia, até que se esgote, encerre.
Pessoas têm fome todos os dias. Precisam de casa, comida e saúde todos os dias, um teto também.
O que fazemos em relação a isso? Damos nosso real de esmola, que é importante mas pouco? Atravessamos a rua para não encarar o produto de nossa ganância consumista? Levantamos a cabeça para não enxergarmos as "criaturas repugnantes", quando repugnante mesmo é a nossa indiferença.
A cada dia que passa no mundo, um quarto de toda a comida produzida no planeta é inutilizada, não doada, jogada no lixo absoluto. Enquanto isso, África e América Latina carregam duros fardos da pobreza.
Consertar todo o mundo pode ser uma utopia flagrante, e é. Mas parte dele não é sonho, devaneio, trata-se de apenas resgatar os valores de todos os credos religiosos, mesmo da boa vontade de ateus e agnósticos. Repartir. Ajudar.
O patrão trata o empregado com salário mínimo e ameaça de emprego, pois "tem gente para aquele lugar".
O sujeito paga impostos e acha que o poder público é também seu empregado, basta pagar e exigir serviço, sem participar de nada.
O funcionário público quer trabalhar pouco.
O estudante acha que "colar" é melhor do que aprender e vai arrastando-se.
Esses, e todo mundo junto, vêem o pedinte esmolar na rua e balançam a cabeça, como que dizendo ser uma mazela impossível de se corrigir. Nada disso. Falta vontade. Vontade mesmo.
O mundo que defende Bush, o Clube de Paris e os juros brasileiros não pode mesmo ser digno de boas festas.
Em janeiro, começa tudo de novo. Porque, na verdade, nunca terminou.
Paulo Roberto Andel, 22/12/2006

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