Era o menino de olho na lagoa vadia, tão vespertina
Cheia de garças brancas e também dois pedalinhos
Sem muitos namorados a dedilhar por tanto amor
Em um fundo turqueza, cinzento, de muitas cores
Era o menino que fazia das vistas um bom navio
Para cruzar todos os mares de um planeta livre
Com a velocidade de um tal cometa, admirável
Desejável quando viesse toda noite enluarada
E que cortasse os horizontes feito tinta na tela
Brilhante, impactante, tal como caleidoscópio
O menino trazia um bondoso sorvete à mão
Contrariando o calor de seu coração juvenil
Ria do nada para quem fosse ali desatento
Mil motivos de felicidade não lhe faltavam
Ria da tarde, das cores sãs, do vento breve
Tudo coisas passageiras que nós, humanos
Desprezamos pela bobagem do ser adulto
É preciso que demo-nos o próprio indulto
Pela redenção da liberdade calorosa, viva
Que traga empolgantes visões das garças
Aposentemos de vez em sempre os paletós
A frieza dos escritórios gélidos, impessoais
Merecemos o intervalo do caos nas ruas
Apenas em breve e tão decidido instante
Para viver a verdade de meninos, limpos
Namorando a paisagem vistosa da lagoa
E cantar, partir e voltar ao melhor da vida
Há vida nas flores, nos cantos e campos
Onde os cegos também vêem, e vibram
Melodia melhor para os surdos não há
E o que dizer da voz que aparta mudez?
Paulo Roberto Andel, 20/09/06
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