Não entendo muitas coisas neste mundo, é verdade, mas nada me incomoda mais quando penso em certos papéis desempenhados por determinadas pessoas. Não sei, ou até sei, que se é pelo fato de eu ser mulher e uma mulher relativamente normal ou se eu sou anormal mesmo e fico intrigada com coisas sem importância. O fato é que eu não acredito que exista esposa de ginecologista neste mundo.
Começo pensando em um trabalho normal, como outro qualquer. Pense em um! Obviamente não pode ser o ginecologista porque ele não se enquadra nesses termos... mas um dentista, por exemplo. Imagine agora um dia comum de trabalho deste dentista: abre boca, fecha boca, o próximo! Abre boca, fecha boca ... o dia inteiro nisso. Agora, imaginemos nosso normal lidador chegando ao aconchego do lar, exausto depois de um duro dia de trabalho... não agüenta mais ver uma boca aberta na sua frente. Quer ver televisão, ler um livro, conversar e namorar sua esposa...
Acho que não preciso citar outros exemplos. Para que vocês entendam onde quero chegar, podemos ir direto ao nosso estranho trabalhador: o ginecologista. Poupemos-nos dos detalhes do seu dia e vamos direto ao final de sua jornada, a sua chegada ao seu doce lar. A sua necessidade merecida de descanso, estacionando o carro na garagem... quem abre a porta de casa para recebê-lo? Ela! A sua esposa que é a causa da minha indignação e descrença.
Vamos continuar a imaginar o casalzinho feliz em casa. Toca o telefone, a esposa atende. Uma voz feminina do outro lado inicia:
“-Alô, o Doutor Arthur está?”
Sua voz é de coitadinha, pois está sofrendo de algum mal que até Deus sabe aonde. O doutor vem prontamente atendê-la e carinhosamente pergunta:
“-O que está sentindo?”
Começo pensando em um trabalho normal, como outro qualquer. Pense em um! Obviamente não pode ser o ginecologista porque ele não se enquadra nesses termos... mas um dentista, por exemplo. Imagine agora um dia comum de trabalho deste dentista: abre boca, fecha boca, o próximo! Abre boca, fecha boca ... o dia inteiro nisso. Agora, imaginemos nosso normal lidador chegando ao aconchego do lar, exausto depois de um duro dia de trabalho... não agüenta mais ver uma boca aberta na sua frente. Quer ver televisão, ler um livro, conversar e namorar sua esposa...
Acho que não preciso citar outros exemplos. Para que vocês entendam onde quero chegar, podemos ir direto ao nosso estranho trabalhador: o ginecologista. Poupemos-nos dos detalhes do seu dia e vamos direto ao final de sua jornada, a sua chegada ao seu doce lar. A sua necessidade merecida de descanso, estacionando o carro na garagem... quem abre a porta de casa para recebê-lo? Ela! A sua esposa que é a causa da minha indignação e descrença.
Vamos continuar a imaginar o casalzinho feliz em casa. Toca o telefone, a esposa atende. Uma voz feminina do outro lado inicia:
“-Alô, o Doutor Arthur está?”
Sua voz é de coitadinha, pois está sofrendo de algum mal que até Deus sabe aonde. O doutor vem prontamente atendê-la e carinhosamente pergunta:
“-O que está sentindo?”
Silêncio. O doutor está ouvindo. “Estarei lá na clínica amanhã, dê um pulinho lá para eu dar uma olhadinha, enquanto isso pode ir aplicando...” e a doce e feliz esposa à mesa com o jantar esfriando ouvindo esta conversa. Desliga o telefone e o jantar prossegue naturalmente. E depois vão para cama, onde juram que tudo acontece como em qualquer outro lar. Ora, quem pode acreditar que esta cena é real sem questionar se o casal não é de outro planeta?
Já tentei perguntar a esses enigmáticos homens sobre esta minha inquietude e todos mentiram da mesma forma: é diferente. Olhar a esposa é diferente de olhar uma paciente. Como isso é possível? A não ser que a esposa seja “realmente” diferente - o que torna a história mais assustadora. E para onde as esposas vão quando tem problemas ginecológicos???
Vamos além, dizem esses seres que é um trabalho como outro qualquer. Que “analisar” uma mulher é, na prática, igual ao que qualquer mecânico de automóvel faz. Levamos o carro com problemas, ele olha e dá o diagnóstico. É claro que como a mulher é um ser humano há um cuidado maior na forma que o problema será tratado; porém, é fato, que não há nenhum deslumbre ou uma emoção da parte do médico ao ver sua paciente de pernas abertas na sua frente. Se assim for, agora temos uma situação mais estranha ainda. Trata-se do médico examinando sua paciente no consultório.
Todas as mulheres sabem que ir a um ginecologista é um evento, seja lá qual for a freqüência que o vemos. Preocupamos com a nossa “aparência”, nos olhamos no espelho sob determinados ângulos que não nos vemos todos os dias, algumas passam perfume, todas tomam um banho mais demorado... Enfim, chega a hora de contarmos o nosso probleminha ou apenas fazer um simples preventivo. Conversamos um pouquinho até que ele nos olha com certo jeitinho e diz para nos trocarmos, isto é, que é para colocarmos aquela camisolinha que está pendurada no banheiro do consultório. Faço xixi? A mulher nervosa pensa. E se o papel ficar grudado? Jogo água? Me enxugo como??? Deita-se na cama. Será que estou bem? Ouve-se a voz dele: "relaxa, meu bem." Devo me fazer de meiguinha ou relaxar como ele pede? E se eu soltar um pumzinho sem querer? Ai meu Deus! O médico a examina... "Quanto será que foi o jogo de ontem?" Era só o que faltava...meu time perder de novo! Será que vai dar tempo de passar no banco? Ih, não posso me esquecer de ligar pro... pronto, querida, acabou! Depois conversam médico e paciente, despedem-se e... próxima!
À noite, a paciente lembra que esqueceu de perguntar algo para o médico. Liga para a casa dele, atende uma calma voz feminina.
“-Alô. Alô, o Dr Arthur está?”
“- Ele ainda não chegou, quer deixar recado?”
“- É que eu estive com ele hoje, meu nome é Elika e, bem... ele sabe qual o meu problema, é que eu esqueci de perguntar a ele uma coisa.”
“- Ligue mais tarde, ele chega daqui a pouquinho.”
“- É que eu fico sem graça em ficar incomodando...”
“- Bobagem! Pode ligar, o trabalho dele é esse!”
“- Com quem estou falando?”
“- Com a esposa dele...”
Neste momento, a origem do Universo, a física quântica e a desigualdade social viram objetos de simples pesquisa - e me repreendo ao ter ensinado aos meus filhos que fadas e ETs não existem.
Já tentei perguntar a esses enigmáticos homens sobre esta minha inquietude e todos mentiram da mesma forma: é diferente. Olhar a esposa é diferente de olhar uma paciente. Como isso é possível? A não ser que a esposa seja “realmente” diferente - o que torna a história mais assustadora. E para onde as esposas vão quando tem problemas ginecológicos???
Vamos além, dizem esses seres que é um trabalho como outro qualquer. Que “analisar” uma mulher é, na prática, igual ao que qualquer mecânico de automóvel faz. Levamos o carro com problemas, ele olha e dá o diagnóstico. É claro que como a mulher é um ser humano há um cuidado maior na forma que o problema será tratado; porém, é fato, que não há nenhum deslumbre ou uma emoção da parte do médico ao ver sua paciente de pernas abertas na sua frente. Se assim for, agora temos uma situação mais estranha ainda. Trata-se do médico examinando sua paciente no consultório.
Todas as mulheres sabem que ir a um ginecologista é um evento, seja lá qual for a freqüência que o vemos. Preocupamos com a nossa “aparência”, nos olhamos no espelho sob determinados ângulos que não nos vemos todos os dias, algumas passam perfume, todas tomam um banho mais demorado... Enfim, chega a hora de contarmos o nosso probleminha ou apenas fazer um simples preventivo. Conversamos um pouquinho até que ele nos olha com certo jeitinho e diz para nos trocarmos, isto é, que é para colocarmos aquela camisolinha que está pendurada no banheiro do consultório. Faço xixi? A mulher nervosa pensa. E se o papel ficar grudado? Jogo água? Me enxugo como??? Deita-se na cama. Será que estou bem? Ouve-se a voz dele: "relaxa, meu bem." Devo me fazer de meiguinha ou relaxar como ele pede? E se eu soltar um pumzinho sem querer? Ai meu Deus! O médico a examina... "Quanto será que foi o jogo de ontem?" Era só o que faltava...meu time perder de novo! Será que vai dar tempo de passar no banco? Ih, não posso me esquecer de ligar pro... pronto, querida, acabou! Depois conversam médico e paciente, despedem-se e... próxima!
À noite, a paciente lembra que esqueceu de perguntar algo para o médico. Liga para a casa dele, atende uma calma voz feminina.
“-Alô. Alô, o Dr Arthur está?”
“- Ele ainda não chegou, quer deixar recado?”
“- É que eu estive com ele hoje, meu nome é Elika e, bem... ele sabe qual o meu problema, é que eu esqueci de perguntar a ele uma coisa.”
“- Ligue mais tarde, ele chega daqui a pouquinho.”
“- É que eu fico sem graça em ficar incomodando...”
“- Bobagem! Pode ligar, o trabalho dele é esse!”
“- Com quem estou falando?”
“- Com a esposa dele...”
Neste momento, a origem do Universo, a física quântica e a desigualdade social viram objetos de simples pesquisa - e me repreendo ao ter ensinado aos meus filhos que fadas e ETs não existem.
Ao meu ginecologista e sua esposa com carinho
Elika Takimoto
Simplesmente demais esse texto.
ReplyDeleteEngraçado q nao encontrei nd na net q fale sobre isso.
Será q somente nós duas pensamos isso?
Nao pode ser!
Abraços.