que solidão é maior
do que ser mais um
na voz da multidão?
todos juntos vamos
ao lugar nenhum
nada sobre nada
nenhuma canção
para celebrar o nada
levantamos o pranto
e os gritos de amor se perdem
Saturday, September 17, 2016
Friday, September 09, 2016
grande cão
oh, grande cão das orelhas afiadas
e olfato impecável, o que procuras?
farejando a minha alma encardida,
esgarçada, pendurada num varal
esgarçada, pendurada num varal
o imaginário pau de arara e sua dor
choques elétricos e ratos na vagina
choques elétricos e ratos na vagina
e o que pretende à minha boa morte?
esqueça das minhas assombrações
esqueça das minhas assombrações
e veja a morte dos choques de ordem
das ilusões burguesas de camarim
das ilusões burguesas de camarim
grande cão, não convém latir muito
porque é olho por olho e dentes nus
porque é olho por olho e dentes nus
os velhacos e suas amantes, esperem:
todo mundo tem passado na hora vã
todo mundo tem passado na hora vã
grande cão, tenha um grande coração
porque a tempestade somos nós dois
porque a tempestade somos nós dois
@pauloandel
Thursday, September 08, 2016
acontece
acontece: estamos oprimidos demais
pisoteados demais, desprezados demais
temos sido derrotados pela estupidez
somos campeões da casa do caralho
- o descaso é nossa pátria mãe gentil
e queremos o exílio - sorvemos exílio
com as enrugadas mãos estendidas
debaixo de marquises tristes
e belas varandas indiferentes
onde foram parar a ordem e o progresso
que não nos chamam à paz?
navegam em mares desconhecidos
enquanto a esperança é ônibus lotado
cheio de descrentes
o que nos resta é o rancor, a mágoa
um sentimento de culpa coletiva
enquanto o sono também traz lágrimas
de boa morte para um amanhã de nada
e quem há de se importar com a dor?
acontece que rompemos os paradigmas
da estupidez numa grande população
- e os obreiros nos odeiam com força
parecemos involuntários orixás
ainda bem que estamos numa democracia
mesmo que a descarga esteja entupida
e não tenha sobrado uma mísera
canção de amor, oh grande amor!
sejamos as irmãs de caridade funesta
da nossa desgraça
e os velhos sujos, pútridos títeres
com seus choques de ordem
e gente bonita, branca e de bem
dançando na lama esgarçada do caos
a última nota do solo é bênção do caos
somos imortais pela dor que nos une
a nova ordem é uma piada insípida
o tom da cor tem uma estampa torta
@pauloandel
pisoteados demais, desprezados demais
temos sido derrotados pela estupidez
somos campeões da casa do caralho
- o descaso é nossa pátria mãe gentil
e queremos o exílio - sorvemos exílio
com as enrugadas mãos estendidas
debaixo de marquises tristes
e belas varandas indiferentes
onde foram parar a ordem e o progresso
que não nos chamam à paz?
navegam em mares desconhecidos
enquanto a esperança é ônibus lotado
cheio de descrentes
o que nos resta é o rancor, a mágoa
um sentimento de culpa coletiva
enquanto o sono também traz lágrimas
de boa morte para um amanhã de nada
e quem há de se importar com a dor?
acontece que rompemos os paradigmas
da estupidez numa grande população
- e os obreiros nos odeiam com força
parecemos involuntários orixás
ainda bem que estamos numa democracia
mesmo que a descarga esteja entupida
e não tenha sobrado uma mísera
canção de amor, oh grande amor!
sejamos as irmãs de caridade funesta
da nossa desgraça
e os velhos sujos, pútridos títeres
com seus choques de ordem
e gente bonita, branca e de bem
dançando na lama esgarçada do caos
a última nota do solo é bênção do caos
somos imortais pela dor que nos une
a nova ordem é uma piada insípida
o tom da cor tem uma estampa torta
@pauloandel
Tuesday, September 06, 2016
urnas eletrônicas e o grito de independência
quando as urnas eletrônicas votaram sozinhas, a república federativa da indigência mental viveu a liberdade
os indivíduos de bem ruminaram mamilos, gritaram flatos e decretaram mediocridade ou morte súbita a sós
um grandioso céu de anil enfeitou a pátria amada - mãe gentil das estúpidas sentenças de peixes e varas de pescar
e todos ficaram apaixonados por seus próprios cus, verdadeiros detentores da grandeza do raciocínio diferenciado
cus, nobres cus, ventres livres do novo iluminismo desta terra, que é o país do futuro porque ninguém lembra o ido
a literatura dos sovacos tornou-se voz
dos exilados das bibliotecas, salas de aula, mesas de bares e seus arredores
foi a libertação dos cérebros inúteis que possibilitou novas descobertas lúcidas sobre o tratado geral da gente ignara
e trouxe riachos de felicidade aos donos da terra, os senhores de engenho novo e seus capitães do mato contemporâneo
lindas manchetes de jornais eram lidas
pelos próceres de calças arriadas e fé
na análise crítica de seus atentos cus
a nova ordem trouxe prosperidade e luz
aos cretinos, sonegadores, traficantes, totalitaristas e demais celenterados
e acabou o comunismo, esse incrível comunismo da livre iniciativa e do grão
dinheiro cada vez mais concentrado
o comunismo foi derrotado pela união dos cus pensadores, os novos reitores da academia das ciências de merda vil
no dia em que as urnas eletrônicas votaram sozinhas, os cabrestos deram adeus aos pescoços nus dos asininos
e fomos felizes demais: gritamos gol, berramos uhus e vimos gente jovem e bonita por todos os lados tão possíveis
o problema foi à noite: sendo os cus novos pensadores, quem iria querer saber daqueles velhos cérebros tristes?
o que fazer dos choques de ordem, das repressões, dos mares do ódio virtual, das certezas dos primitivos da cólera
o comunismo acabou, a barbárie é real:
somos todos campeões do mundo torpe - temos nossa nova meritocracia
estamos no auge da nossa liberdade: comentamos o que não lemos, somos indiferentes aos bons pensamentos
finalmente nos libertamos com méritos:
nossos cus foram voluntários da pátria
e nos resgataram da boçal solidariedade
o papel higiênico arranha os cérebros
a fraternidade é protagonista do féretro
e a hipocrisia é nosso capital inicial
cus, delicados e sacrificados cus, deem
ao povo tudo que não encontramos
nos velhos estudos feitos com a cabeça
a verdade é que somos excrementos
de uma sociedade fedida e contaminada
uma pátria cerrada até a sã guilhotina
somos soldados de revistas ordinárias
e manchetes fajutas, quase artesanais:
eis a bosta nova que cerra a tarde cinza
@pauloandel
os indivíduos de bem ruminaram mamilos, gritaram flatos e decretaram mediocridade ou morte súbita a sós
um grandioso céu de anil enfeitou a pátria amada - mãe gentil das estúpidas sentenças de peixes e varas de pescar
e todos ficaram apaixonados por seus próprios cus, verdadeiros detentores da grandeza do raciocínio diferenciado
cus, nobres cus, ventres livres do novo iluminismo desta terra, que é o país do futuro porque ninguém lembra o ido
a literatura dos sovacos tornou-se voz
dos exilados das bibliotecas, salas de aula, mesas de bares e seus arredores
foi a libertação dos cérebros inúteis que possibilitou novas descobertas lúcidas sobre o tratado geral da gente ignara
e trouxe riachos de felicidade aos donos da terra, os senhores de engenho novo e seus capitães do mato contemporâneo
lindas manchetes de jornais eram lidas
pelos próceres de calças arriadas e fé
na análise crítica de seus atentos cus
a nova ordem trouxe prosperidade e luz
aos cretinos, sonegadores, traficantes, totalitaristas e demais celenterados
e acabou o comunismo, esse incrível comunismo da livre iniciativa e do grão
dinheiro cada vez mais concentrado
o comunismo foi derrotado pela união dos cus pensadores, os novos reitores da academia das ciências de merda vil
no dia em que as urnas eletrônicas votaram sozinhas, os cabrestos deram adeus aos pescoços nus dos asininos
e fomos felizes demais: gritamos gol, berramos uhus e vimos gente jovem e bonita por todos os lados tão possíveis
o problema foi à noite: sendo os cus novos pensadores, quem iria querer saber daqueles velhos cérebros tristes?
o que fazer dos choques de ordem, das repressões, dos mares do ódio virtual, das certezas dos primitivos da cólera
o comunismo acabou, a barbárie é real:
somos todos campeões do mundo torpe - temos nossa nova meritocracia
estamos no auge da nossa liberdade: comentamos o que não lemos, somos indiferentes aos bons pensamentos
finalmente nos libertamos com méritos:
nossos cus foram voluntários da pátria
e nos resgataram da boçal solidariedade
o papel higiênico arranha os cérebros
a fraternidade é protagonista do féretro
e a hipocrisia é nosso capital inicial
cus, delicados e sacrificados cus, deem
ao povo tudo que não encontramos
nos velhos estudos feitos com a cabeça
a verdade é que somos excrementos
de uma sociedade fedida e contaminada
uma pátria cerrada até a sã guilhotina
somos soldados de revistas ordinárias
e manchetes fajutas, quase artesanais:
eis a bosta nova que cerra a tarde cinza
@pauloandel