Thursday, July 30, 2015

o rio à beira da noite lúcida

ah, o rio
com seus poetas bêbados
dizendo estrelas à calçada
do atlântico sul:
cinco estrelas de copacabana
bons e maus em vigília
crianças de favela
sentinelas da madrugada
- não tem mais o miguelão na serrinha, edgard romero
numa esquina onde os meninos jogavam pneus
o rio, uma serenata
as mãos estendidas da mendiga lina
numa siqueira campos tão morta:
a vila faleceu!
os escombros da poesia escorrem em versos libertos de noel
o poeta carlito delira na leiteria
enquanto uma moça sorri
santos da cruz vermelha
samaritanos deitados em amizade cumprida com rigor
as mulheres mais lindas que vêm e vão
o mendigo estende as mãos
e a preocupação é bem mais do que gemido
os maestros em condução
mestres secretos do andaraí
o rio do largo do machado
com mil escoteiros do ar
e o 434 cheio de gatas tijucanas retornando da praia
orixás de amor, orixás de amor
o rio da praça sete e morros santos
minha burguesia é um engano
o amor a desabrochar nos corações imperfeitos
enquanto passos de bailarina dão o tom
versos de lan, cargas de aroeira
a bossa nova é samba num café da manhã
o rio das desreligiões, teatro de pequenos dramas
meu amor é um piano rasgando
a procissão dos insensíveis
enquanto brigam por justiça
na radial oeste, na vieira souto
no deserto da automóvel clube
o rio despetalado, irresistível
dos sambas e discotecas:
honra ao mérito para os boêmios em riste
a vida é foda, o rio é lindo
e onde houver memória o fluminense lá estará
o rio das belezas sorridentes
fernandas, julianas, patrícias da terra natal
realengos, cosmes velhos, escambau
alguém mergulhou numa nuvem de fumaça - o pó de arroz é verde
somos otraspalabras!
o afago da amizade
entre dois comunistas morais
panaméricas de vanessas, marílias e um amor de isabel
a cidade é um silêncio enquanto o fla-flu aquece as paixões
meu rio
minha dor, o caos desenhado nas estrelas
um dia seremos todos nossos - a hipocrisia será derrotada
o rio numa noite de quinta-feira
quando os bares morrem mais um pouco
embora sejamos imortais de fé
o rio, cidade partida com seus monitores escrevendo
e remoendo-o com fúria e desejo
rio, minha companheira - por isso fiquei tão só

@pauloandel



Tuesday, July 28, 2015

cós do mundo

o cós do mundo à vista
qualquer cobiça é brinquedo
o que será que tem
debaixo das sete chaves
de pano?

o cós do mundo, uma calça arriada
universo em desencanto
a patriamada noves fora nada
os cordeiros de deus dizendo amém
enquanto ruge um jornal nacional

o cós do mundo, tem bunda de fora
banana de feira e bacanas calhordas
ordem e progresso de mãos dadas com amoral
- antigamente não era nada disso, vocês vão ver!
o globo disse, o globo falou
o jabor berrou aos ouvidos bêbados que deram de ombros
debaixo de uma marquise qualquer

o cós do mundo, não sobra nada
as virgens estupradas, crianças grávidas
chicletes nas esquinas em troca de uma facada:
- precisamos de um choque de ordem!
- enfia a extensão no cu e liga!
que tal discutir viadagem? OU A VERGONHA da putaria?
alguém morreu de frio numa calçada qualquer
pela própria culpa, nenhum mérito e a vida é assim mesmo:
- cada cachorro que lamba sua caceta

o cós do mundo, oh bunda mole
a novelinha esta na tela e você vai se encantar
as orelhas de livros é que não podem enganar
emebiêi sem gramática, gênios sem talento, discursos prêt à porter
onde é que se chora as mágoas
no cadáver da praça mauá?

o craque trouxa, a celebridade oca, o idiota blasé
com sua cara de tédio maquiando ignorância
a vida é crise, nenhum sentido liberta
sirva uma dose de criatividade no balcão do bar

@pauloandel

Tuesday, July 21, 2015

strangelove

corações solitários
deslizando em quintas avenidas
no coração da capital -
a grande cidade
o grande sistema
e nenhum grande trocado
o amor desacontece
o metrô com passageiros
quase desacordados
em seus smartphones -
corações solitários sim
mais redivivos do que nunca:
o amor e os desencontros
as pedras que não rolam limo
um amor mais que distante
os pensamentos navegantes
a pátria de mãos estendidas -
os corações são desencanto

@pauloandel

Tom Zé: Tribunal do Feicebuqui & Parque Industrial





Tom Zé mané
Baixou o tom
Baba baby
Bebe e baba
Velho babão

Tom Zé bundão
Baixou o tom
Baba baby
Bebe e baba
Mané babão

Seu americanizado
Quer bancar Carmen Miranda
Rebentou o botão da calça
Tio Sam baixou em sampa
Vendido, vendido, vendido!
A preço de banana
Já não olha mais pro samba
Tá estudando propaganda

Que decepção
Traidor, mudou de lado
Corrompido, mentiroso
Seu sorriso engarrafado

Não ouço mais, eu não gostei do papo
Pra mim é o príncipe que virou sapo
Onde já se viu? Refrigerante!
E agora é a Madalena arrependida com conservantes
Bruxo, descobrimos seu truque
Defenda-se já
No tribunal do Feicebuqui
A súplica:
Que é que custava morrer de fome só pra fazer música?






É somente requentar
E usar,
É somente requentar
E usar,
Porque é made, made, made, made in Brazil
Porque é made, made, made, made in Brazil

Retocai o céu de anil
Bandeirolas no cordão
Grande festa em toda a nação.
Despertai com orações
O avanço industrial
Vem trazer nossa redenção.

Tem garota-propaganda
Aeromoça e ternura no cartaz
Basta olhar na parede
Minha alegria
Num instante se refaz

Pois temos o sorriso engarrafadão
Já vem pronto e tabelado
É somente requentar
E usar
É somente requentar
E usar
Porque é made, made, made, made in Brazil.
Porque é made, made, made, made in Brazil.

A revista moralista
Traz uma lista dos pecados da vedete
E tem jornal popular que
Nunca se espreme
Porque pode derramar.

É um banco de sangue encadernado
Já vem pronto e tabelado
É somente folhear e usar
É somente folhear e usar

@pauloandel

Thursday, July 16, 2015

Helio Fernandes, uma bandeira do jornalismo


Esta é uma entrevista do ano passado.

Nela, Helio Fernandes mostra que, aos 94 anos, sua lucidez e conhecimento são impressionantes.

Vale a pena ver do início ao fim.




@pauloandel

Wednesday, July 01, 2015

anybody seen my baby?

o silêncio imerso
em mil palavras poupadas
o anseio expresso
em cordilheiras d'alma
o tesão na contramão
e o mais simples desacalma
o amor, uma contradição
a falta de ar, o ventre não ser
um carnaval sem religião

@pauloandel