Friday, August 27, 2010

VIVO















subitamente, me percebo vivo
e isso não quer dizer
contradição/ angústia
nem ausência de bom senso;
capto-me vivo no silêncio
ante celestiais bobagens
dependuradas num jornal de grande
circulação
nos sorrisos cretinos
da televisão
ou ainda
nas fachadas pútridas
calcinadas com botox
que se ostentam nos maiorais
do Leblon no multiplex
mostro-me vivo
quando a música
sem
letra
de damo suzuki
bombadeia meus ouvidos
com doçura
sou vivo porque meu coração batuca
vivo porque o muito ainda me falta:
mesmo num mundo sem cura
viver é escavar
procurar pequenos tesouros
chamados instantes
pequenas riquezas
que significam momento
sou vivo porque o amor me tece
no alto de um pé-direito
à francesa
e nenhum artifício me destrói
pareço tão vivo
quando minhas palavras
tão perfumadas pelo efêmero
ganham vida eletrônica
quero ser vivo porque sou oceano:
namoro a paz
mesmo que ela não me dê tanta atenção
estou vivo
porque os mortos são muito vivos
em meu peito estudantil
e o domingo
é um domingo
embalsamado por futebol
finjo-me vivo por meu sexo
minhas querelas de madre-pérola
meu ir-e-vir sem muita precisão:
o que parece ao léu
na verdade é liberdade –
respiro e ansio,
ansio e regurgito,
cobiço o vivo
o rito
o crivo!


Paulo-Roberto Andel, 27/08/2010
Foto: Aline Massuca












Thursday, August 26, 2010

BASTA UMA IMAGEM, HA, HA, HA, HA!










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Wednesday, August 25, 2010

RECORDANDO 2006...



Por Paulo Henrique Amorim

Fonte:
http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/394501-395000/394778/394778_ 1.html
16/out/06 14:07

Um golpe de Estado levou a eleição para o segundo turno.

É o que demonstra de forma irrefutável a reportagem de capa da revista Carta Capital que está nas bancas (“A trama que levou ao segundo turno”), de Raimundo Rodrigues Pereira. E merecia um sub-titulo: “A radiografia da imprensa brasileira”.

Fica ali demonstrado:

1) As equipes de campanha de Alckmin e de Serra chegaram ao prédio da Polícia Federal, em São Paulo, antes dos presos Valdebran Padilha e Gedimar Passos;

2) O delegado Edmilson Bruno tirou fotos do dinheiro de forma ilegal e a distribuiu a jornalistas da Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, do jornal O Globo e da rádio Jovem Pan;

3) O delegado Bruno contou com a cumplicidade dos jornalistas para fazer de conta que as fotos tinham sido roubadas dele;

4) O delegado Bruno procurou um repórter do Jornal Nacional para entregar as fotos: “Tem de sair à noite na tevê., Tem de sair no Jornal Nacional”;

5) Toda a conversa do delegado com os jornalistas foi gravada;

6) No dia 29, dois dias antes da eleição, dia em que caiu o avião da Gol e morreram 154 pessoas, o Jornal Nacional omitiu a informação e se dedicou à cobertura da foto do dinheiro;

7) Ali Kamel, “uma espécie de guardião da doutrina da fé” da Globo, segundo a reportagem, recebeu a fita de audio e disse: “Não nos interessa ter essa fita. Para todos os efeitos não a temos”, diz Kamel, segundo a reportagem

8) A Globo omitiu a informação sobre a origem da questão: 70% das 891 ambulancias comercializadas pelos Vedoin foram compradas por José Serra e seu homem de confiança, e sucessor no Ministério da Saúde, Barjas Negri.

9) A Globo jamais exibiu a foto ou o vídeo em que aparece Jose Serra, em Cuiabá, numa cerimônia de entrega das ambulâncias com a fina flor dos sanguessugas;

10) A imprensa omitiu a informação de que o procurador da República Mario Lucio Avelar é o mesmo do “caso Lunus”, que detonou a candidatura Roseana Sarney em 2002, para beneficiar José Serra. ( A Justiça, depois, absolveu Roseana de qualquer crime eleitoral. Mas a campanha já tinha morrido.)

11) Que o procurador é o mesmo que mandou prender um diretor do Ibama que depois foi solto e ele, o procurador, admitiu que não deveria ter mandado prender;

12) Que o procurador Avelar mandou prender os suspeitos do caso do dossiê em plena vigência da lei eleitoral, que só deixa prender em flagrante de delito.

13) Que o Procurador Avelar declarou: “Veja bem, estamos falando de um partido político (o PT) que tem o comando do país. Não tem mais nada. Só o País. Pode sair de onde o dinheiro ?”

14) A reportagem de Raimundo Rodrigues Pereira conclui: “Os petistas já foram presos, agora trata-se de achar os crimes que possam ter cometido.”

Na mesma edição da revista Carta Capital, ao analisar uma pesquisa da Vox Populi, que Lula tem 55%, contra 45% de Alckmin, Mauricio Dias diz: “ ... dois fatos tiraram Lula do curso da vitória (no primeiro turno). O escândalo provocado por petistas envolvidos na compra do dossiê da familia Vedoin ... e secundariamente o debate promovido pela TV Globo ao qual o presidente não compareceu.”

Quer dizer: o golpe funcionou.

Mino Carta, o diretor de redação da Carta Capital, diz em seu blog, aqui no IG (http://blogdomino.blig.ig.com.br/), que houve uma reedição do golpe de 89, dado com a mão de gato da Globo, para beneficiar Collor contra Lula. “A trama atual tem sabor igual, é mais sutíl, porém. Mais velhaca,” diz Mino.

Permito-me acrescentar outro exemplo.

Em 1982, no Rio, quase tomaram a eleição para Governador de Leonel Brizola. Os militares, o SNI, e a Policia Federal (como o delegado Bruno, agora, em 2006) escolheram uma empresa de computador para tirar votos de Brizola e dar ao candidato dos militares, Wellington Moreira Franco. O golpe era quase perfeito, porque contava também com a cumplicidade de parte de Justiça Eleitoral e, com quem mais? Quem mais?

O golpe contava com as Organizações Globo (tevê, rádio e jornal, como agora) que coonestaram o resultado fraudulento e preparam a opinião pública para a fraude gigantesca.

Que só não aconteceu, porque Brizola “ganhou a eleição duas vezes: na lei e na marra”, como, modestamente, escrevi no livro “Plim-Plim – a peleja de Brizola contra a fraude eleitoral”, editora Conrad, em companhia da jornalista Maria Helena Passos.

Está tudo pronto para o segundo golpe.

O Procurador Avelar está lá.

Quantos outros delegados Bruno há na Policia Federal (de São Paulo, de São Paulo !).

A urna eletrônica no Brasil é um convite à fraude. Depende da vontade do programador. Não tem a contra-prova física do voto do eleitor. Brizola aprendeu a amarga lição de 82 e passou resto da vida a se perguntar: “Cadê o papelzinho?”, que permite a recontagem do voto ?

E se for tudo parar na Justiça Eleitoral? O presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello já deixou luminosamente claro, nas centenas de entrevistas semanais que concede a quem bater à sua porta, que é favor da candidatura Alckmin.

E o segundo golpe? Está a caminho. As peruas da GW já saíram da garagem.

Wednesday, August 18, 2010

MANO BROWN!

Tuesday, August 17, 2010

ESTÁ CHEGANDO A HORA
















Chega dessa gente que se diz de “oposição” mas viveu a vida toda beijando a mão do regime militar e de seus asseclas.

Chega dessa falácia mofada de combate aos “gastos”, pois quando elles estiveram por uma década com o poder nas mãos e o dólar parelho, só souberam entregar a soberania nacional ao capital estrangeiro.

Chega dessa gente que diz “poder mais”, mas tem podido muito pouco em 30 anos na administração paulista.

Chega dessa gente que acha que pode manipular a classe trabalhadora com novelas, revistas e dossiês.

Não somos idiotas. O povo também não é.

Os resultados das pesquisas soam-lhes como atestado de óbito. Nem os institutos que notadamente trabalham para as corporações deles conseguem mais maquiar nada.

Desistam!

Venceremos as eleições de forma ostensiva. O caminho do Brasil voltado para os trabalhadores e miseráveis é IRREVERSÍVEL.

Desistam e descansem em paz.

O Brasil que era nosso em 1964 e foi roubado, agora em 2010 volta definitivamente às nossas mãos. Os primeiros grandes passos foram dados no governo de Lula e agora, com Dilma mais do que presidente, virá a guinada definitiva para a libertação econômica da gente oprimida.

Onde quer que estejam, Brizola, Darcy e Jango estão orgulhosos.

Ainda falta muita coisa, é claro: não havia como consertar 40 anos de atraso em 8.

Mas tudo leva a crer que, finalmente, as classes oprimidas tomam o caminho da dignidade e do respeito. Eu achei que um dia morreria sem ver isso; felizmente, me enganei.

BRIZOLA VIVE!

O BRASIL TAMBÉM!


Paulo-Roberto Andel, 17/08/2010

Monday, August 16, 2010

UMA CARTA PRA CEUMAR















Olá, querida,

Em primeiro lugar, muito prazer. Você não me conhecia, mas eu te conhecia, aha! Anos atrás, tive uma loja de cds usados e nela, também vendia alguns discos de artistas pertencentes a selos independentes, outros fora da opressão midiática e por aí vai. Isso deve ter uns seis anos, acho, 2004. Então, o tempo se foi e, talvez porque nem tudo seja fácil num país de tamanho continental feito o Brasil, a verdade é que nunca tinha visto um show teu. Disco, até sexta, eu tinha o “Achou!”, muito bom por sinal. Agora só falta um!

Nestes dias, uma alegria enorme foi rever a Sala Funarte, palco de shows fantásticos que assisti, sempre a bons preços e no coração da cidade. Fizeram um projeto novo, a produtora é da pesada, as coisas acontecem. Dei uma espiada na programação e vi que tinha o teu nome. Disse “é hoje”, leia-se sexta, mas não era bem assim: ingressos esgotados, em cima do laço consegui uma promoção no Twitter e a sala me ofereceu uma cadeira. Melhor ainda, meu amigo Marcelo é o técnico de som. Mais melhor de bom, meu grande amigo Felício Torres, uma das autoridades musicais desta cidade, também estava presente.

Discos são discos. Os melhores sabem emocionar, cativar, levar o ouvinte para outras atmosferas. Creio que os que conhecem o teu trabalho possam já ter compartilhado de tal experiência. Porém, uma coisa é certa: quem gosta da música do mundo, da música da alegria, liberdade e beleza precisa ter a chance de ver o teu show, precisa estar in loco porque só vendo ele é possível ver como a música chega ao infinito. Meia-hora antes do espetáculo, levei um tombão num desses milhares de buracos nas calçadas do Centro do Rio; quando você começou a cantar, a dor passou e fiquei contente.

Por sorte minha, já pude ver alguns shows de música muito bons, de vários gêneros. O Eric Clapton, os Rolling Stones, Tom Jobim duas vezes (numa delas, para dezoito pessoas num Teatro da UERJ vazio por má-divulgação), Bob Dylan duas vezes, os Cariocas, João Donato, Raphael Rabello, Nana Vasconcellos, Tomás Improta, Maurício Einhorn, Uakti, Makely Ka, Youssou N´Dour, Caetano, Gil, Paulinho da Viola, Ed Motta, Adriana Calcanhotto, Joyce, Leny Andrade, Cássia Eller, muita gente. Agora, fazer um show virar procissão, eu só tinha visto uma vez: em abril de 1990, Paul Mc Cartney cantando “Strawberry Fields Forever”. A segunda foi na sexta-feira, quando você ao final do teu show cantou a espetacular “Oração do Anjo”, que só podia ter uma craque como a Matilda Kovac no meio. Sou agnóstico, mas isso não me impediu de seguir a procissão que se formou nos rostos da Sala Funarte, nem que fosse com o olhar, enquanto você navegava calmamente por entre a platéia, pisando como se estivesse na Lua. Se tivesse saído da Sala e ganho a rua Araújo Porto Alegre, tenho certeza de que todos nós iríamos atrás de você para onde fosse. Um dos momentos mais belos que vi de música em toda a minha vida, no que lhe sou muitíssimo grato.

Não sei se você percebeu, mas o fim a tua apresentação causou um estarrecimento depois dos merecidíssimos aplausos. Acho que a turma percebeu que era hora de voltar ao planeta Terra, onde as coisas definitivamente são menos leves e doces e profundas, menos lindas e intensas. Então, formou-se uma fila para te cumprimentar, que não era somente de fãs, mas de missionários na verdade. O meu amigo Marcelo, que cuidou do som, fazia questão de te cumprimentar e, por isso, eu não entrei na fila: esperamos quase todo mundo ir embora. Assim, eu fiquei vários minutos vendo como você cumprimentava as pessoas com tanta simpatia, tanta dignidade. Foi outro momento fantástico: nós, mortais, sempre nos sentimos bem quando os artistas nos dão os melhores exemplos; somos fãs e, de certa forma, buscamos no ídolo a perfeição que nos falta de alguma forma. Assim, foi por isso que eu preferi não falar na hora e resolvi escrever, até porque a palavra publicada fica. É uma pequena esculturinha.

Poderia falar também dos momentos maravilhosos repartidos com a Jussara Silveira. Ano que vem a gente merece um show das duas, juntas juntinhas!

Gostaria de agradecer imensamente pela oportunidade de ter visto o teu trabalho de perto. Num Rio de Janeiro de pele linda, mas cicatrizado por injustiças, desigualdades, egoísmo, uma hora e meia da tua música nos servem de antídoto, feito aquele que um dia Jards Macalé e Capinam escreveram: “No céu de Gotham City há um sinal/ Sistema elétrico nervoso contra o mal”.

É um imenso orgulho saber que lá nos Países Baixos, na bela e gloriosa Holanda, estamos tão bem-representados por você. Quem te vê por lá só pode imaginar o melhor do Brasil.

Obrigado por teu trabalho maravilhoso, tua música que liberta, tua simpatia, beleza e atenciosidade, tua voz fantástica de dois mil oceanos. Obrigado pela tua presença no coração do Rio. Obrigado por mostrar que, numa hora e meia de música, a vida faz todo o sentido e ela tem beleza, beleza, beleza e poesia. Beleza e canto. Beleza e vida.

Abro o plástico do cedê, bem como antigamente neste tempo de dáumlôadis. Esbarro com Gigante Brasil, Dante Ozzetti, Kleber Albuquerque. Aí lembro do Zeca Baleiro, do Itamar Assumpção, da Rita Ribeiro.

É esse Brasil que eu quero para mim.

Cheguei até aqui para dizer que você é sensacional. Mas isso deve soar repetitivo; não tem como você mesma não saber. A Sala Funarte é testemunha.

Um grande beijo, espero que tenha tido uma boa viagem e, por favor, volte logo.

Nós precisamos!

Paulo-Roberto Andel, 16/08/2010

(Crédito da foto: Fernando Aguiar)

Wednesday, August 11, 2010

MISCELÂNEA DE PEQUENÍSSIMAS HISTÓRIAS



Pequenos desastres de uma sociedade funesta e, para compensar, um grande disco.


1

Não me chamem para qualquer encontro de “velhos amigos que não se veem (ou o fazem uma vez por ano)”. Um horror!

Tenho medo.

Além do mais, velhos amigos que não se veem? Então não são amigos; no máximo, velhos conhecidos. Rechaço essa outra balela de “ah, o verdadeiro amigo pode ficar anos sem ver que continua lá, intacto”: raras vezes houve uma definição tão humana para o que se chama de hipocrisia. Meus amigos hoje não são velhos nem de idade, quanto mais de não-convivência: todos em permanente contato. Sair da lista é opção de cada um, o que respeito e o que também não significa porta sempre aberta a quem bater – vai depender de como ela foi fechada.

Confirmem minha ausência nestes convescotes, por favor. Eu juro!

Nos últimos anos, vivenciei algumas experiências desse porte com tudo o que possa haver de pior nisso. Agora entendo bem porque Ivan Lessa ficou 30 anos sem pisar no Rio de Janeiro: não queria contaminar as memórias. Salvo um ou outro que vale a pena recordar (mesmo) e retomar, o resto é bola fora. Melhor guardar passados amorosos da pureza infantil do que lidar com a escrotidão madura.

A turma do colégio eu até entendia: vivemos a infância-adolescência na ditadura, não havia oxigenação para pesquisas e trocas mais profundas, isso prejudicou toda uma geração. E pensar que idiotas escrevem e falam que a ditadura foi branda! Alguns prosperaram, mas se deixaram levar pela arrogância. Há seis fantásticos, mais o Aloísio que não aparece, Floriano que faz arte de primeiríssimo mundo, mais alguns. Luiz Carlos. Do Vieirinha, falo depois. O segundo grau era Sarney, o que também não significa muita coisa. Deixemos para lá.

Imperdoável é a época da faculdade.

Chego a me assustar que alguns jovens daquele tempo, com grande potencial, tenham se tornado quarentões reacionários (ainda com potencial, mas desperdiçado), sem qualquer compromisso com a sociedade que lhes cerca, o próximo, seja lá quem for. O tempo passa, o sujeito humilde de outrora com seu caderninho na mão e escola quase grátis (não posso esquecer dos impostos que mantiveram e mantém as instituições públicas de ensino superior, ainda que, naquele tempo, tivesse poucos negros, nordestinos e desfavorecidos onde eu estudava), à custa do próprio esforço - e também da generosidade do Estado – se forma, trabalha, passa num concurso público (por exemplo) ou agita um empregão numa grande companhia (por também exemplo), vira um bem-remunerado e... se torna defensor do “Estado Mínimo”, que justamente aniquila a chance das novas gerações terem a mesma oportunidade que ele.

Eu vos pergunto: isso trata de ideologia política ou do caráter?

Me lembra algo perdido noutra década: “O que é bom, a gente mostra; o que é ruim, a gente esconde”.

Deveria ser obrigatória a contrapartida de um sujeito para com a instituição pública que lhe permitiu acumular patrimônio, seja lá de qual forma fosse.

Não enxergar um palmo diante do nariz. Não ver as favelas da linha dois do metrô. Não ver a estranha docilidade dos bandidos “rendidos” pelas UPP. Não ver a patética arquitetura mental proposta pelos “choques de ordem”.

Ternos um ou dois números abaixo do necessário, sorrisos alvares com ar de superioridade tola entre uma ou outra garfada de salada contaminada, a necessidade incontrolável de olhar para o relógio e marcar a hora. O deslumbramento com Miamis e Patagônias. A ostentação barata de “êmebieiz” bem-adquiridos, em detrimento de uma verdadeira capacitação plural que passasse pelo conhecimento real das questões nacionais – ao menos, uma leitura de compensaçãozinha por anos de “curso superior” sem conhecer qualquer outra literatura que não fosse a de seu curso em si. A admiração por verdadeiros quadrúpedes como Mainardiota (este, em fuga iminente do país por conta da atividade parajornalística de capitão-do-mato), Jabor (filósofo oficial adotado nos maconhódromos yuppies e, ao mesmo tempo, o mais medíocre de todos os que se tornaram cineastas no Cinema Novo) e Reinaldo Azevedo (esse é tão imbecil que fica até difícil adjetivá-lo; talvez seja uma versão afetadíssima (?) do falecido Athayde “Isto é um luxo!” Patreze). A preocupação vulgar e patética em ostentar pequenas riquezas, acreditando que se trata de “progresso” diante de um país que entrou nos eixos, mas ainda tem uma enorme massa de miseráveis que formam a maioria do povo. Não comentarei nada sobre quem tenha esse perfil e, aos domingos, vá a missa para “pedir pelo próximo”, ou que comente sobre a "nova" atitude do “conjunto musical” chamado Restart (anos antes, alguém elogiara a "atitude" de LS Jack enquanto eu queria saber de Charles Mingus e Art Blakey...). Contraste.

Será que tanta hipocrisia/miopia tem a ver, de alguma forma, com os anos de fuligem de FHC?

Marquem a festa e imploro: mandem-me o convite para o endereço errado.

Os outros, amigos mesmo, estão muito bem-cuidados.


2)

O pessoal de trinta e quarenta, vá lá. Alguém reclamando por que não chiei a respeito dos cinquentões e sessentões?

Tenho respeito pelos conhecidos mais velhos.

Pelos desconhecidos, não.


3)

O Brazyl que não gosta do Brasil tentou, tentou e tentou.

O desespero é total. Facilmente visto nas “páginas” de O Globo, do Estadão, na tela do JN e outros menos votados.

A cada dia que passa, qualquer brasileiro pensante sabe que os oito anos do Governo Lula poderiam ter sido muito, mas muito melhores do que foram; ainda assim, eles foram muito, mais muito, muitíssimo acima da “Era do frango a um real”.

Não há clima para golpes. A verdadeira revolução está no asfalto. O interesse real das Forças Armadas de hoje é reajustar os soldos.

Não há o que fazer.

Dilma está eleita, muito bem-eleita. A dúvida agora é saber se as composições ainda levarão a um segundo turno ou a fatura é liquidada em outubro. Seu patético rival já entregou os pontos. No debate da semana passada, cerrando os punhos, dizia “eu vou fazer, eu vou inaugurar”. O objetivo era o de ser sério, mas pareceu cômico.

Analisando de forma bem rasteira, qual seria a diferença para o governo neoliberal de outrora e o atual governo neosocial?

Simples.

Emprego e renda para os mais pobres. Como formam a imensa maioria da população, decidem e mexem em toda a cadeia pelo poder de compra, mesmo que menor.

FHC também podia ter feito o mesmo, se tivesse compromisso com a condição de estadista.

Não tinha.

O risco do Brasil desabar já era.

Livres para sempre de FH e seu séqüito.

As viúvas do capitalismo selvagem e fútil tornam-se carpideiras.


4)

O velho JB está morrendo? Talvez.

Porém, enquanto tivermos o prazer de um craque como Mauro Santaynna escrevendo, esta morte do jornal não passará de farsa.

"Réquiem para os “renascentistas”
10/08/2010 - 23:31

Recordemos a queda do muro de Berlim, o desmantelamento do sistema socialista, que pretendia ser o retorno ao liberalismo do século 19. Mais do que a globalização da economia, que continua, tivemos o tripúdio sobre os pobres. Houve quem anunciasse, com obscena soberba, que os incapazes deveriam tornar-se dóceis servos dos competentes. Era essa a lei da vida, a lei da natureza, a essência do sistema de liberdades cimentado pelo capitalismo sem limites.

Em nosso país, um intelectual, que se dizia de esquerda, assumiu a Presidência da República e, sob o efeito de relampejante conversão na maturidade, abraçou o novo e único fundamentalismo, como esplêndida e gloriosa era. “É um novo Renascimento”, proclamou, com a segurança e a autoridade dos profetas ungidos pela graça da Revelação.

Não tínhamos, país abaixo do Equador, povoado de mestiços, que inventar rodas e modas; bastava-nos seguir a corrente, integrarmo-nos na economia novamente liberal, depois do despertar do sonho do socialismo e do fim da “ociosidade” do povo, debitada ao Estado de Bem-Estar Social.

O capital financeiro assenhoreou-se do mundo. Ao aceno de nosso renascentista, ruíram as barreiras alfandegárias, revogaram-se os dispositivos constitucionais que protegiam o sistema financeiro nacional, entregaram-se bancos brasileiros a preços simbólicos a grandes consórcios financeiros internacionais (como foi o caso do Bamerindus, cedido ao HSBC), e o Estado recuou, no mundo inteiro, menos na velha China. Sobretudo nos países ao sul do Equador político, o Estado se viu acuado, envergonhado, enquanto as ONGs assumiam o seu papel. No Brasil, privatizaram-se a toque de caixa, para impedir a reação da cidadania, empresas estatais estratégicas, que geravam recursos e tecnologia de ponta.

Não foram necessárias duas décadas para descobrir que o neoliberalismo era um expediente dos donos do mundo, que, com métodos pavlovianos de gestão (em que se combinam o suborno e a repressão), criaram quadrilhas de executivos financeiros, que roubaram do Estado e de pequenos e médios investidores – sempre com a ajuda de arrogantes acadêmicos, entre eles alguns brasileiros. Os grandes executivos, de salários milionários, não passavam de audaciosos ladrões, que manipularam as finanças internacionais da mesma forma que os old boys de Chicago controlavam o mercado das bebidas, da droga, do lenocínio. Os new boys da Escola Neoliberal de Chicago, e de instituições semelhantes, que os mexicanos chamam los perfumados, se tornaram os executores dessa nova ordem, também contra seus próprios povos.

Contra os ladrões de Wall Street, a nova legislação obtida por Obama (Dodd-Frank Act) prevê premiar os que denunciarem falcatruas no sistema financeiro, com uma porcentagem (de 10 a 30%) das penalidades financeiras que incidirem sobre os culpados. Um dos denunciantes do esquema Madoff recebeu 1 milhão de dólares de recompensa, antes mesmo da aprovação do novo dispositivo legal. O novo Renascimento não está sendo posto à prova somente no caso dos ladrões que, ao contrário dos que se arriscam a assaltar de fora para dentro, atuam de dentro dos próprios bancos. O sistema está em processo de erosão na fragilidade de seus grandes exércitos, diante da resistência dos povos. Não lhes tendo bastado a lição do Vietnã, há mais de 30 anos, os senhores da guerra mordem a poeira no Afeganistão, depois de mordê-la no Iraque. Mas sempre lhes restam as ogivas nucleares, contra o Irã – e outros alvos.”

Para aplaudir de pé.


5)

O rock não morreu, o rock não vai acabar.

Era 1981 e havia um alvoroço na sala de aula. Lembro do Vieirinha comentando que ia ter show do Peter Frampton no Maracanãzinho. Eu tinha doze anos, parecia ter dez, já ia ao futebol, mas sabia muito pouco de música. Ir a show, nem pensar. Anos depois, amizades como as de Kheirallah, Caux, Nascentes, Ivalski e Valença me deram muitos caminhos musicais. Entre idas e vindas, saquei muito de Peter Frampton; vendia muito, depois sumiu. Chegou a emplacar uma boa canção nas rádios dos 80, chamada “Lying”; fez outro discaço ao vivo, que não venceu desta vez. Por uns tempos, foi guitarrista da banda de David Bowie.

Era 2010 e eu flanando pela Saraiva quando me deparo com a capa de um velho Spitfire e um garotinho louro olhando para cima. “Thank you, Mr. Churchill”, seríssimo candidato a disco do ano e um dos discos da década. Rock puro. Baixo, guitarra e a luxuosa bateria de Matt Cameron, titular do Pearl Jam. Aos que curtem o ritual, recomendo não baixar: a emoção da capa vale as vinte pratas.

O mundo está mais egoísta e cretino.

Já não se fazem mais quarentões como antigamente.

Felizmente, há sopros de vida quando Peter Frampton prevalece.

Eu agradeço ao Vieirinha, de coração.

Por ora, vou ouvir também o Valter Franco.



Paulo-Roberto Andel, 11/08/2010

Thursday, August 05, 2010

CCC

















Cenas Contemporâneas de Copacabana

I

Não me venham com balelas: férias são férias e, gigantes pela própria natureza, boas. Pouco importa se duram um mês ou uma semana – só nos resta viver. E discordo daqueles que creem na obrigatoriedade de se viajar para ter boas férias. Ora, se nasci e vivo numa das cidades mais maneiras do mundo, descontadas as hipérboles e todas as mazelas já conhecidas, viajar para quê? Um acréscimo: mais do que nascer e viver numa cidade maneira, melhor ainda ter nascido/vivido no bairro mais maneiro dela.

Assim como todo craque é craque até que volta a ser simples mortal, quando comparado com Pelé, todo bairro nobre é nobre até que alguém fala de Copacabana. Saiam de baixo!


II

Nasci na Rua do Bispo, Casa de Portugal, julho de 1968, definitivamente uma época sem mar para peixes, barcos e sereias. Oito dias depois, já instalado em meu confortável berço na rua Belford Roxo, apoteose do Lido, a ditadura entrou em minha casa e pôs minha amada mãe para correr... comigo no colo, é claro. Escapei do primeiro atentado contra minha vida sem maiores arranhões. Reviraram a casa toda e destruíram livros, para deleite dos imbecis que ainda acreditam que o Brasil não foi tomado pelo fascismo em 1964.

Não tenho maiores lembranças além das sensacionais fotos tiradas pela Bolinha Mãe. Uma festa em casa, talvez dos meus dois anos de idade. Imagens esparsas. E só. Na praça do Lido, brincava com cordão de ouro na chupeta. Sérgio Brito e Clóvis Bornay eram meus fãs, o que muito orgulhava a minha amada mãe e, como se viu a seguir, somente me agregaram valores positivos. Sou modesto.

Descontando seis meses em Cascadura e um ano em Madureira, entre 1968 e o dia 19 de novembro de 1993, eu respirei Copacabana. Isente os acampamentos escoteiros que, somados, devem dar umas noventa noites em campo. Uma ou outra viagem. Assim, oito mil e quatrocentas noites bem-vividas vendo televisão em casa, jogando bola na praia, correndo na orla ou em outros causos íntimos que não vale a pena publicar.

Oito mil e quatrocentas noites depois, atravessar o Túnel Novo, que já não é tão novo (uma galeria, centro e cinco anos; a outra, apenas sessenta e um), Copacabana ainda mexe com meus gordos hormônios. Pobreza e riqueza na mesma quadra, prédio ou até mesmo apartamento. Travestis cumprimentando babás. Lutadores de kung fu conversando sobre o Concretismo. O modelo que usava chifres viking na porta do Centro Comercial. A entrada do Clube Israelita que virou feirinha. A baleia do Parque Peter Pan.

Mais ou menos por aí.


III

Muito legal flanar sem rumo ou compromisso pelas ruas do bairro, feito os tempos de criança.

Antes disso, deliciosos discos na Fnac, quando meu amigo de infância Marco me telefona e combina um encontro no dia seguinte: está de férias, precisará visitar a mãe e, com isso, podemos jogar alguma conversa fora. Segunda-feira foi dia de descanso. Hoje, que foi outro dia, compras de música. Nenhum problema com downloads, eu baixo também. O problema, para quem me entende, é que ler o jornal na internet é diferente de folheá-lo. Já escrevi aqui mais de uma vez sobre as delícias do ritual de ouvir um disco: um bom refrigerante gelado, deitar na cama, abrir o disco, colocar para tocar, ler o encarte, quem tocou quem produziu.

Quarta-feira na estação Arcoverde.


IV

Tá lá o português. Não temos mais a casa do Fred, o carteado com Luiz Magno e o Jorge vive viajando, fato que dificulta a reunião da turba.

- Cara, vamos dar uma caminhada por aí? Depois a gente vai comer alguma coisa.

- Fechado.

Um sebo que fica perto dos fundos do Copacabana Palace. Nenhum disquinho. Da outra vez eu capturei um Fito Paez importado.

Mais duas quadras pelo saboroso caos da avenida Copacabana, número quarenta e três da Siqueira Campos.

CCC. Centro Comercial de Copacabana. Quinze anos que não entrava ali. Da outra vez, eu queria um Doobie Brothers ao vivo. Não rolou.

No subsolo, há uns trinta anos, a loja “Lixo” era um clássico para quem queria, acreditem, comprar calças jeans. O dono se dizia amigo do meu pai, mas nunca lhe deu um tostão ou auxílio quando ele adoeceu e parou de andar... e de ter trabalho e renda. Apareceu no enterro. Grande bosta! A loja faliu. Foi merecido.

Subindo a escada rolante, do lado esquerdo era uma lanchonete que tinha excelentes sucos e misto-quente. Desapareceu. Era tudo tão presente para mim, como pode ter sumido? Descendo pela esquerda até o fundo, era a Disco do Dia. Fred adorava comprar coisas por lá, geralmente mais baratas; o que não era lançado no Brasil, era na Billboard mesmo, da Barata Ribeiro.

Em algum dos corredores comprei jogos de botão. Onde, não lembro mais.

Agência de viagens, loja de souvenirs eróticos, delivery de quentinhas. Loja de conserto de eletrônicos, o velho DJ da Help no batente – com cara de poucos amigos. Marcel. Morava no prédio do Fred, bloco F, Figueiredo Magalhães, 598. Saudade.

Um inegável aroma de trash e elegância que só Copacabana tem. Aquela coisa limítrofe entre o Braga e o admirável. A tangente. Minha casa.

Segundo andar, um sebo cheio de dvds e revistinhas. Marco gostou. Alguns cds, mas não menos bons. Mundo Livre S A, “Manuela Rosário” e um ao vivo do Maurício Pereira, tocando covers de grandes sucessos do rádio e tevê. Maurício foi dos Mulheres Negras, com André Abujamra, e é um dos grandes artistas brasileiros – atualmente pode ser visto/ouvido como o locutor da propaganda da lata vermelha de cerveja. Simpática a dona. Tudo baratinho, segundo ela, para voltar. Voltarei. Noutro andar, a loja que não tinha Doobie Brothers, cheia de metal pesado.

Quando tinha catorze anos, voltando da escola Cícero Penna, caminhar no CCC era uma recorrência. Quase trinta anos depois, não tenho mais como fazer isso regularmente – por isso, um passeio kitsch é extremamente valoroso.

Ainda deu tempo de almoçar um sanduíche no Cafeína, bem ao lado do prédio onde Marco morou por muitos anos. Patrícia passou por mim, não me viu, não me reconheceu, continua linda, acho que é a dona. Tempo também de descer a Cinco de Julho, onde ele, Marco, reviu o velho centro espírita que freqüentava, agora em novo endereço.

Caminhar pela praia deserta em dia nublado e conhecer as maravilhas dos banheiros subterrâneos da orla, limpos, vigiados e, claro, caros.


V

Bar no fim da tarde, rápido. Uma horinha de drinque, falar da vida, dos amores, das pessoas queridas que se foram, dos momentos muito divertidos, de outros nem tanto. Religião, não-religião, política, esse desastre que envolve o goleiro Bruno, efemeridades. O bar se chama Alla Zingara, pleno ítalo, foi todo reformado recentemente, mas o chamamos de Bar da Kátia: nossa amiga lindona e caozeira mora do outro lado da rua e batizou involuntariamente o apelido da taberna. Esquina de Belford Roxo com Ministro Viveiros de Castro. A vinte metros dali, era a minha festa de dois anos de idade. Ou o endereço do qual fugi aos oito dias de vida, porque o Estado Fascista me considerava comunista e, por isso, criminoso. Estamos em 2010. Sou comunista.

Num mundo escroto como o de hoje, repleto de individualismo e valores fúteis, bom olhar para a frente e ter um amigo de mais de trinta anos de batalha.

Hora do Marco ir embora. Trânsito. Barra. Recreio. Não é mais como era antigamente, entendo. Não é só ir ao velho Gordon perto da Figueiredo e andar duas quadras para casa. Hora de fechar conta.

Toca o telefone, Luiz veio do Paraná e está onde as coisas acontecem. Copacabana. Teremos outro encontro breve. Marco levanta, vamos até a Rodolfo Dantas. Dizem que Einstein almoçava, voltava para a faculdade e, quando encontrava um amigo, aluno ou similar, almoçava de novo. Meu dia de Einstein, portanto: deixar Marco, passar na lan house e agradecer os recados de aniversário no Orkut, voltar ao Bar da Kátia.


VI

Eu lembro de ter visto dois jogos de futebol seguidos, dois filmes seguidos, mas não de ter ido a um bar, fechado a conta, saído dele e, vinte minutos depois, voltado. A rapidez se deveu porque os recados orkutianos eram bem comportados, o que deixou minha gata gordinha bem feliz, creio.

Falando em gata gordinha, cinco ou seis telefonemas. Mulher gosta de telefone.

Quase três anos depois, Luiz de volta. Alegria. Falar da vida, dos amores, das pessoas queridas que se foram, dos momentos muito divertidos, de outros nem tanto.Acho que já li isso antes.

Coisa de dez da noite, hora de partir. Eu numa linha do metrô, Luiz na outra. Nos cumprimentamos fraternalmente.

Sete telefonemas.

Em breve, estarei em casa.


VII

Ainda deu tempo de ver o segundo tempo do jogo do Santos. É ataque, é toque de bola. Merecemos isso, ainda mais depois da burrice colossal de Dunga. Dunga? Já era. Que nem Serra, felizmente.

Se eu tivesse um dia por mês para ir a Copacabana fazer essas coisas, seria mais feliz.

Quem disse que eu precisava viajar para me divertir se enganou.

“Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!”

Noel Rosa, 1935.


Paulo-Roberto Andel