Friday, December 28, 2007

Mais do mesmo

Entra ano, sai ano, as coisas não mudam muito, a não ser pela aceleração do crescimento (que é também uma pequena reação aos anos de estagnação d'outrora) e pela nova geração de celulares.
Este ano já nasceu morto.
Perdi minha mãe na terra com quatro dias.
O resto, foi quase lucro.
Vi os mesmos jogos de futebol e gostei de quase todos. Futebol é bom; desagradável é o que o cerca. O Fluminense ganhou o Brasil, o Fluminense é o que há.
Alguns shows, alguns filmes, muitas músicas.
Namoros que vão e vêm, namoros de uma noite somente, namoros de meia noite. Agora sou sério. Acho.
Lá fora, faz um calor danado e deve ter cem, duzentas mil pessoas na orla. Praticamente nenhum tumulto. Traficantes também tiram férias, acho. Nem tanto.
Acho estranho quando as pessoas falam de feliz natal e de boas festas.
Festa?
Não quero ser um chato, mas há um ano os bandidos incendiaram o ônibus com gente dentro, ninguém mais fala. Arrastaram o menino por quilômetros, ninguém comenta. Bala na cabeça do garoto no Clube Federal, cadê? Onde está a memória insana dessa gente?
Festa?
Final de ano, fui bem recepcionado por uma querida num daqueles apartamentões da Atlântica. Teve amigo oculto. Um amigo da turma, educado, começou a prosear. Outro camarada chegou. Falavam de Lula, do roubo, da corrupção, coisas que me deixam até cansado. Tudo bem. Problema foi quando um defendia a ditadura como meio de "salvação do país". O outro dizia que "tem que remover essas favelas inteiras".
Aí eu me assustei.
Perdi meu tio por conta da ditadura, já estudei o tumor que foi na vida carioca a remoção noutros tempos. Entendo quem defenda isso por desespero com as coisas de hoje ou ignorância com o passado. E só.
Noutros tempos, eu ia defender o meu discurso. Ali, naquela altura de dezembro, desisti. Susto em um segundo; silêncio, noutro. Melhor ver o mar de Copacabana, a construção do palcão onde vai ter muito fânqui na "festa da virada".
Virada?
Não passou a CPMF. Que maravilha. Ô. Tudo em nome do "povo" que é sacrificado porque já paga impostos demais. Certa verdade. Imposto para o refrigerante, o pão, o jornal, a luz, o gás. Mas a matemática me pareceu um tanto esquisita: boa parte do povo não paga CPMF porque simplesmente não opera com conta corrente. Verdade seja dita: uma pequena parcela do condado brasileiro não gostava desse imposto porque ele é mais enrolado de sonegar.
Os brasileiros estão aí. As televisões mostram seus programas de retrospectivas e seus "colar, colou!" - os pilotos de séries que, se derem alguma audiência, entram no ano que vem em grade fixa. A maioria não dá.
O doismileoito terá seu carnaval encolhido. Carnaval, para os pouco afeitos, não é somente o tempo de desfiles, mas sim todo o período compreendido entre primeiro de janeiro e o dia seguinte ao Desfile das Campeãs. Aí, o ano finalmente começa - e com desconto mas sem CPMF.
Ao que tudo indica, Bob Dylan vem cantar no Brasil, é sinal de alento.
Um bom campeonato de futebol, o carioca, e os times na Libertadores. Será divertido.
As pessoas vão encher a cara no dia trinta e um, muitos não abrirão mão do pó. Uma ou outra suruba, uma ou outra devassidão. Males diversos, creio.
Eu não faço planos.
A vida tem dois dias letivos: um quando você nasce, outro quando você vai embora. O resto é intervalo para amor, dor e pensamentos ao longe.
Eu queria ter visto Ana Klein, mas não consegui. Alessandra, felizmente sim.
O Zé vai casar, finalmente ouviu algo que eu disse.
Conseguindo viajar um pouco nos finais de semana, vendo o Fluzão e namorando normalmente, além de pagar as contas, estou quase satisfeito. Nada de grandes ambições.
Tomara que não me encham muito o saco com essa baboseira de "O governo do Lula é uma vergonha com toda essa corrupção"; já li e pesquisei muito sobre o assunto, muito além da leitura de jornais rasteiros e da falácia de senadores que têm a carteira profissional virgem.
Tomara que os traficantes matem menos e trafiquem menos. E que as pessoas cheirem menos pó.
Tomara que se roube menos.
Tomara que, daqui a um ano, tenha menos gente hipócrita falando em união, amizade, fraternidade, enquanto se nega a dar um real para o mendigo ou sonha com a remoção daquelas malditas favelas lá de cima.
E basta. Mais do mesmo já melhora alguma coisa.
Um beijo a quem devo.
Até.
Paulo-Roberto Andel; 28/12/2007

Thursday, December 13, 2007

Boa ação

Ontem, tarde da noite, estive refestelado no sofá enquanto girava incessantemente os canais da tevê. Houve um estalo, e lembrei-me de que ocorria a votação da CPMF transmitida pela TV Senado - sempre um bom programa para se rir ou chorar, dependendo de cada caso. Deixo claro que acompanhar a trajetória dos nobres parlamentares é fundamental, por mais inacreditáveis que sejam seus argumentos para votar nas questões á, bê ou cê, "pelo povo".

Certa hora, apareceu o Presidente Sarney, hoje Senador, em seu discurso. Naquele instante, esqueci-me das bazófias senatorais - até porque a CPMF, que desagrada mil vezes mais a classe empresarial (e dela cobra) do que o "povo" propriamente dito. Assisti um pouco e mudei de canal, sem prestigiar o cinismo do Sr. Virgílio e a posterior "comemoração da vitória", como se a vida de milhões de pobres nada valesse.

Sarney ficou na cabeça. Lembrei dos tempos de presidência. Confusos, por sinal.

Alguém me contou que a eleição era de mentirinha, somente no Congresso, e todos sabíamos que Tancredo venceria - o Brasil era caótico, mas Maluf era demais. Eu voltava da praia quando alguém gritou num bar da Domingos Ferreira:

- O Tancredo venceu!

Nada perto da ampla movimentação meses antes, por conta das manifestações pelas eleições diretas.

Tumulto mesmo foi quando Tancredo passou, era noite de 21 de abril. Entrou o Brito na televisão e comunicou. O enterro parou o país, era gente de todo lado. Menos pela boa trajetória de vida e mais pelo que significava aquele momento, Tancredo entrou para a história. E Sarney, que nem pensava em ser vice-presidente poucos meses antes, ocupou a cadeira.

Veio a febre do Plano Cruzado e a esperança de se controlar a inflação. Graças ao dinheiro doado por meu querido tio, que viria a falecer um ano e meio depois, consegui até fazer uma faculdade particular com os preços das mensalidades sob "congelamento" - se a memória não falhar, eram quatrocentos e sete mil cruzeiros em fevereiro, e passaram para quatrocentos e sete reais durante o ano todo. pelo menos, até a eleição, quando o "descongelamento" de preços foi para o espaço e a inflação voltou invencível.

Tempos de Sarney eram também tempos de Moreira Franco no Rio de Janeiro, e a promessa de acabar com a violência em 180 dias. O resultado, todos sabemos.

Eu não arrumava emprego, a não ser temporariamente na gigante Mesbla, a mesma que depois foi posta a pique pelo Sr. Mansur. Consegui a duras penas, nem tão duras assim, passar para a escola pública de qualidade. Dureza mesmo, era no bolso.

Tudo isso me veio à tona com a simples vista do discurso do Senador.

Agora, marcante mesmo, nos tempos do Sarney, foi uma certa noite, que deve ter sido no segundo semestre, depois do fracasso na Copa do Zico. Estudava em Niterói; para voltar, pegava o velho 996, velho mesmo, modelos Mercedes Benz dos anos 60. O caminho rotineiro de sempre: Ponte, Rodoviária, Santo Cristo, Santa Bárbara, Laranjeiras e Botafogo, até saltar na praia em frente à Sears. Ali, novo ônibus, em geral o 434, para saltar na Siqueira Campos e rever a turma no Bar do Seu Manel - o Xuru, Coruja, Pedro, Henrique, Ana, João.

Numa das voltas, eu saltei do 996 e, prestes a fazer a baldeação, uma senhora me pediu ajuda. Era bem velhinha, redondinha, tinha um quê de Tia Anastácia, mas com certa dificuldade para falar. Carregava uma bolsa grande, parecia vir de longe, de viagem. Estava com um papel rascunhado, mal-traçado, que tinha um escrito de uma secretaria que parecia ser um órgão público, mas sem o endereço, e procurava pelo filho que estava no trabalho.
E começou a chover.

A primeira coisa que pensei foi em tomar um táxi, só que eu não tinha um tostão no bolso que não fosse a passagem de ônibus. Arrisquei, estiquei o braço e um sujeito parou. Expliquei o fato de que estava tentando ajudar a senhora, já eram cerca de onze da noite, ele topou colaborar. Descemos São Clemente, Real Grandeza e Voluntários, até que lembrei de um antigo arquivo que funcionava na Praia, entre Voluntários e São Clemente, justamente, e pedi ao motorista para que fôssemos para lá. Na porta, comparamos o rascunho e era exatamente o local procurado. Saltamos, o motorista veio conosco. Depois de minutos de espera à porta, fomos atendidos. Ela balbuciou e, felizmente, o filho dela estava lá mesmo, trabalhando como vigia.

Deu certo. Ainda cheguei a ver pela fresta do portão mãe e filho se abraçando.

Despedimo-nos, o taxista me deu carona até em casa - ficou até emocionado, ele disse que era do Norte, que não via a mãe desde muito tempo e queria voltar à terra. Deixou-me na Siqueira. No bar, não tinha ninguém, eu resolvi subir logo para casa. Minha mãe estava sozinha pois, naquele tempo, meu pai tinha tentado uma experiência de trabalho em São Paulo, devidamente fracassada a posteriori.

Cheguei e dei o tradicional abraço na bolinha mãe, para depois contar do fato. Ela ficou contente e emocionada, até porque durante cinquenta anos procurou a família perdida (naqueles tempos, eram trinta). E disse que tinha ficado orgulhosa de mim. Fiquei contente também. A metros dali, a velhinha também estava abraçada ao filho, feliz. No fundo, foi apenas uma boa ação, daquelas que a gente devia fazer a toda hora e que eu, compromissado com a causa pelo fato de ainda ser escoteiro, buscava a todo instante. Quando não buscava, a chance da boa ação surgia logo em frente.

Hoje, nesse meio de dezembro, uma vez que ninguém vai me dar o caminho para eu reencontrar minha mãe, e nem eu vou poder mais ver a velhinha abraçando o filho, não deixa de ser uma boa associação de idéias que a imagem do Senador Sarney na tela me traga algo tão bom - e não exatamente o que eram aqueles tempos para muitas pessoas.

Um gosto de abraço infinito, uma boa lembrança. Excelente.

Daquele tempo de escassez, talvez uma das únicas.


Paulo-Roberto Andel, 13/12/2007

Friday, December 07, 2007

Pré-conceitos

Era tarde duma quarta, eu conversava ao telefone com um amigo que mora no Planalto, não necessariamente na sede do Governo Federal. Nada de i-meios ou emessêni, telefone da antiga, falar pra escutar e vice-versa. Contava-me ele das pressões que recebe, na condição de solteiro bon vivant, para celebrar um compromisso oficial, fato que o incomoda pelo preconceito que envolve este tipo de situação.
Eu compreendo.
O fato de ser solteiro, gostar de poesia e arte contemporânea rendeu-me e rende muitas pechas.
Tenho outro amigo que crê piamente em que eu seja virgem, por mais patético que isso possa ser, dado que ele não me viu com namorada a tiracolo, isso porque não somos companheiros de vigília noturna e nunca fomos - mas, além de amigo, ele ganha desconto porque também crê piamente em outras coisas que eu, nem sob o efeito dos mais potentes entorpecentes, colocaria fé. Por outro lado, cada um que regule a sua vida e saúde sexuais. Virgindade é direito, abstenção sexual ou mesmo luxúria plena, cada um que cuide de seu corpo.
Pensei em fazer uma listinha para entregar-lhe, mas soaria cafona e desrespeitoso com quem já amei - e com quem amo. Vida que segue.
Estamos em 2007 (ou, ao menos, deveríamos estar sob o ponto de vista cronológico), o velho modelo do eu-te-amo-para-sempre-e-vou-viver-junto-com-você tem seus desgastes - ainda que a mulher amada seja dádiva da natureza - e o resultado é que, num mundo de gente mal-casada, mal-namorada, mal-apaixonada e conformada com a mediocridade, poucos pares das novas gerações podem realmente falar da essência do eu-te-amo (Dara, argh). Amar é bom, mas não é para todo mundo.
Amor, sexo, casal homem-mulher. Tudo isso está envolvido pelo manto do preconceito. O casado que tem má vida sexual, o solteiro que deve ser gay por que não casa, o gay bonito que não fica com mulheres por mais que elas insistam em "regenerá-lo", as mulheres que não se separam para a família não apedrejar. A família que não conversa sobre sexo porque tem "respeito". Esqueci do sujeito que casa ou namora longamente para mostrar aos outros que não é um "encalhado", mesmo que a relação em si não seja das mais emocionantes. Melhor dizendo, uma porcaria.
Telefone desligado, pensei em preconceito. Outro. Outros.
Eu tinha uns nove anos de idade. No intervalo entre um outono e outro, mudei de um apartamento de 300 metros quadrados (onde poderia apresentar ótima forma na capa duma "revista" Caras) para um quarto-e-sala de 40. Tinha um garoto da terceira série, chamava-se Márcio, morava na Lacerda Coutinho. Encontrei-o na rua, chamei-o para jogar botão em minha nova minimansão. Ele apareceu. Lembro-me de como ele olhava aterrorizado para as paredes, para a cozinha, que eram humildes mas extremamente limpas e bem-cuidadas por minha amada mãe - estava acostumado ao gigantismo do antigo apartamento. Ficou lá em casa uns dez minutos, foi embora com cara de horror. Amada mãe até se assustou. Eu não tinha entendido muito bem, muito tempo depois é que saquei: preconceito contra a pobreza. Um sujeito de nove anos ser amigo do apartamento de outro é algo que desafia definições - e, talvez, quem sabe, possa explicar um pouco do que é o Brazyl e o Rio de Janeiro em que vivemos hoje. Primeira vez que me deparava com algo ruim desse jeito - até ali, minha vida era refrigerante, praia, botão, futebol e andar por Copacabana, desimportando quem era filho de barão ou porteiro.
Preconceito. O conceito prévio, normalmente embebido em ignorância.
Colégio, crianças, show de crueldade. Eu nem tinha onze anos, os galalaus de quinze, dezesseis enchiam a paciência porque minha voz era fina e eu tinha um metro e meio. Culpa minha dos caras serem reprovados três, quatro vezes. De vez em quando reencontro um pelo caminho, e incomoda ver que o dito fala das mesmas coisas, sem evolução, feito tivesse ficado em congelador tal como um Buck Rogers, só que sem o menor traço de heroísmo.
Era escoteiro, o pessoal dava gritinhos na rua, acho que por andarmos de uniforme. Estranho, pareciam as mesmas vozes daqueles caras que, passando de carro pela avenida Atlântica, xingavam os transeuntes em alta velocidade.
Faculdade, quando eu citava algum escritor ou poeta, alguém franzia a testa, com certa reprovação. Era o Instituto de Matemática e, em mais de uma vez, ouvi alguém dizer que ali era lugar de se calcular, não de ler. Deve ter sido uma das três maiores besteiras que ouvi na vida. Ou quatro. Oito. Teve uma outra criatura feminina de ofício que xingou meu nome aos quatro costões, e faz isso há dez anos, mesmo devidamente casada, apaixonada e feliz: tomou raiva de mim porque não a beijei e fiz certa força para não beijar. Era feia, um fato, mas não foi a principal razão do esforço: o problema mesmo era que fedia. As que eu devo ter beijado bem até hoje me chamam de Paulinho, me convidam para almoçar, nunca me xingaram. Grapete: quem bebe, repete. Deve fazer algum sentido.
Falaram mal de mim quando emagreci dez quilos e quando engordei trinta, com dez anos de diferença. Quando era moreno de praia, me chamavam de vagabundo; agora, branco, virei "esquisito".
No Brasil, o que não falta é segmentação. Gente disposta a tudo por quinze minutos de fama, a largar mão de qualquer senso ético em prol de bens materiais, luxúria e pequenas riquezas. Tudo raso, falho, trôpego. Você tem que ser bonito, rico, desejado, poderoso. Você tem que ter o mundo aos seus pés, não pode broxar, não pode falhar, não pode chorar, não pode deixar de mostrar aos outros o que tem de melhor. Você tem que ser o máximo, mesmo que isso signifique ser a maior lorota da semana, mês ou ano.
Falar de pobreza, um dos pontos-fortes do preconceito é simples. Basta procurar um nobre no meio do povo pelas grandes avenidas cariocas nestes tempos de pré-natal.
Solidariedade? Que tal começar por abraçar os mendigos, tão seres humanos como nós? Eles podem até feder, mas você não precisa beijá-los na boca.
Encheram meu saco por trinta anos. Agora é a minha vez. Arrá!
Eu não gosto de funk. Eu não gosto de viajar de avião. Eu não gosto de Arthur Virgílio. Eu não gosto de dirigir carros. Eu não gosto de bares cheios, de barulheira e da mais abominável expressão ideomática contemporânea: "galera", que não significa mais os velhos barcos. Dou gargalhadas quando falam que Ivete Sangalo é a maior cantora brasileira. Do Mainardi, quase não se fala porque ninguém o conhece. Eu não gosto dos jornais "Meia-Hora" e "Extra". Eu não gosto dos arroubos intelectuais da Luciana Gimenez. Eu não gosto da mídia que impõe a novela, o Flamengo, os vespertinos da televisão de domingo, o axé, o pagódi, os neo-sertanejos. Eu não me interesso pela carreira solo de Sandijúnior. Eu não gosto de suruba e de gente descontrolada pelo uso de drogas, legais ou não. Por isso, sou preconceituoso?
Tomara que sim.
E que o Márcio não tenha se tornado um boboca.
Paulo-Roberto Andel, 07/12/2007

Saturday, December 01, 2007

IMPRESSÕES - A pátria da debilidade

Tal como tantos outros brasileiros, senti-me humilhado e chocado ao pensar sobre o que seria a chamada cidadania num país que, por força de "contingências", permite que uma adolescente detida por furto seja presa numa cela com uma dezena de detentos, sendo estuprada várias vezes ao dia em troca de comida, água ou outras necessidades básicas, e ainda sendo filmada por "policiais" através de aparelhos celulares, que registraram criminosamente o horror do pior crime contra a mulher - conforme soubemos ocorrer no Pará, após ampla divulgação na mídia. O Estado, que deveria garantir segurança a qualquer cidadão, preso ou não, é promotor de tamanha crueldade através da polícia - inspetores e delegado (a), que conduziram o nefasto processo.

Dias depois, para tentar explicar o inexplicável, foi a Brasília o então chefe da Polícia Civil paraense, cujo nome não será citado neste texto por absoluta indignação. Coroando o show de atrocidades que envolveu tal caso, o dito chefe referiu-se à adolescente torturada como uma "débil mental", por, em nenhum momento, ter afirmado ser "de menor". Em suma, a culpa de todo o sofrimento que a garota sentiu, para o dito chefe delegado, era dela mesma. Sabemos que, no Brazyl, quase tudo é possível - mas aí, neste caso, passaram da conta. Palhaçada tem limite. O chefe perdeu o cargo. Que descanse em paz.

Será que é preciso comentar o desrespeito constitucional quanto ao fato da proibição de homens e mulheres presos dentro de uma mesma cela?

No próprio Pará, outros casos semelhantes foram denunciados. Não é problema de lá, bem sabemos. Procurando-se, acha em outras praças.

Dizem ser o Brazyl um país pacífico. Não temos guerra.

Com as cadeias que temos, e certos policiais, não precisamos de nenhuma Bagdad.

No mais, o dito chefe desrespeitou um coletivo de portadores de necessidades especiais, relacionadas a questões de saúde mental.

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Alguém imaginaria Suzane Von Richthofen numa cela com homens? Isso aconteceria hipoteticamente?

Nunca.

Suzane, que não está presa por furto, como a pobre menina paraense, mas pelo vil assassinato de seus próprios pais a pauladas, é um símbolo de perversidade.

Loura, bonita e rica. Jamais passaria por situação semelhante de estupro na cela, a não ser que quisesse.

A prisão no Brasil tem várias faces. Cada uma delas, de acordo com a condição financeira do detento - e isso faz pensar sobre o que é realmente no Brazyl a chamada "livre iniciativa".

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Apesar de cobertura televisiva compatível com o tamanho da atrocidade, a vergonha registrada no Pará perdeu terreno de mídia para os chamados "devaneios" de Chávez.

"Ditador" de plantão, segundo as autoridades jornalísticas.

Olhando para nossas próprias cadeias, deveríamos pensar sobre a tortura nelas praticada - provavelmente muito pior do que o resultado de todos os possíveis atos ruins de Chávez até a data de hoje, como comandante bolivariano.

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Juvenal foi um bom zagueiro. Sofreu o pão que o diabo amassou na Copa de 1950.

Naqueles tempos, boleiro não ganhava milhões de dólares.

Juvenal parou, ficou pobre, doente. Depois, miserável. Ainda vive, numa casa de pau a pique, oitenta e nove anos. Tem artrose, não anda. Deu no Fantático. Juvenal não viu, pois não tinha televisão. Depois ganhou uma velha, de presente.

O Brazyl é sede da Copa de 2014. Juvenal jogou no Flamengo e no Palmeiras.

De Parque Antactica, a única notícia é a de venderem um kit com pedaços de grama do Estádio Palestra Itália, mais um poster e um CD com o hino do clube, cantado pelos cracks da pelota. Setenta reais.

Márcio Braga, presidente do CRF, afirmou que "se o clube não puder ajudar Juvenal pessoalmente, ele mesmo o fará do próprio bolso". O Flamengo quer comprar o Maracanã e não pode ajudar Juvenal?

Palhaçada tem limite.

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A CBF, claro, não se manifestou.

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Somos ou não uma pátria marcada pela debilidade?

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Paulo-Roberto Andel, 30/11/2007